// Abrigo (2001)

Estreia | 8 de Fevereiro na Quinta do Bando, Vale de Barris
Texto | A partir d ´O Canto da Europa do General do Exército Morto de Ismail Kadaré (Albânia) 

Dramaturgia e Encenação João Brites | Espaço Cénico Rui Francisco e João Brites | Assistência de direcção de actores Teresa Lima | Composição Musical Jorge Salgueiro | Adereços e figurinos Clara Bento | Sonoplastia Sérgio Milhano | Desenho de luz Florival Reis, João Brites | Luminotécnia Luís Fernandes | Direcção de montagem Fátima Santos | Equipa Técnica Pedro Ataz, Bruno Lourenço, Leandro Costa | Relações Públicas Natércia Campos | Coordenação de Itinerância Horácio Manuel | Divulgação Carla Gomes | Secretariado Ana Malafaia | Tesouraria Cristina Sanches

Com | Dom Pietro Dikota e Raúl Atalaia 
O Abrigo desenvolve-se a partir da acção entre dois actores, dois feridos de guerra de exércitos inimigos que se encontram no campo de batalha. O diálogo entre eles abre caminho à reflexão sobre os sentimentos humanos, num jogo ambíguo entre o antagonismo e a dependência do outro.

(sinopse do espectáculo)


Perfil de Guiorge Ajoelhado: Sim!
Perfil de Vladane Sentado: Eles decidiram democraticamente invadir o nosso país?
Perfil de Guiorge Ajoelhado: Sim!
Perfil de Vladane Sentado: E tu? Estás com eles? Queres viver nessa democracia?
Perfil de Guiorge Ajoelhado: Sim! Não! Sim. Talvez!
Perfil de Vladane Sentado: Não gosto dessa democracia. Quero viver no meu país!
Perfil de Guiorge Ajoelhado: Que chato! Já não há o teu país, o meu país! Há uma região. Sem fronteiras!
Perfil de Vladane Sentado: Já me esquecia. É difícil a gente habituar-se à ideia que não tem país.
Perfil de Guiorge Ajoelhado:  Com ou sem país não podemos ficar aqui para sempre! Vamos daqui para fora.
Perfil de Vladane Sentado: Não vou. Estou morto. Quero dormir. Esforço-me por ordenar as ideias, mas não consigo nada. Dormir. Dormir. Fecho os olhos com força, mas não me serve de nada. Quanto mais fecho as pálpebras, mais a escuridão perde em força, porque a noite, aqui e ali, é perfumada por manchas e fitas de luz entrecortadas por pedaços de céu ou pela extensão azul de uma praia longínqua. Preciso de escuridão, preciso de uma longa noite completa, sem manchas, para poder adormecer. Mas as fitas azuis, brancas, arroxeadas e as manchas vermelhas e amarelas não se apagam. Estão aqui, diante de mim, a poucos centímetros de distância, mesmo no coração das trevas.