// O Crucificado (2009)

Estreia | 4 de Junho na Quinta do Bando, Vale de Barris
Criação Teatro O Bando | Co-produção Útero | Texto A partir de Memórias de "Uma Tia Tonta" e outros textos de Natália Correia | Dramaturgia e Encenação Miguel Moreira e João Brites | Composição Musical Jorge Salgueiro | Espaço Cénico Rui Francisco | Apoio à Oralidade Teresa Lima | Figurinos e Adereços Clara Bento | Desenho de Luz João Cachulo | Sonoplastia e Desenho de Som Rui Bentes | Vídeo Sofia Pimentão | Coordenação e Produção Tati Mendes | Montagem Alexandre Araújo, André Luís, Armando Coimbra, Fátima Santos, Filipe Luz, Guilherme Noronha, Sílvio Costa e João Paulo Araújo | Fotografia Raúl Pinto | Agradecimentos Alberto Pereira, Casa do Artista, João Alves, Jorge Bragada, Maria João Viegas, Romeu Runa, D. Zetinha | Com Adelaide João, Guilherme Noronha/Miguel Moreira, Paula Só, Sílvia Almeida (Assistente Estagiária da Escola Superior de Teatro e Cinema) e Filipe Luz (Assistente Estagiário da Escola Profissional das Artes da Madeira) | Músicos Fernando Pernas/ Ana Sofia Macedo, Jacinto Santos e José Carinhas

As igrejas não chegam para dar vazão às nossas rezas. Sairemos para a rua num cortejo, atearemos a noite com a melodia intempestiva da nossa prece popular, folclórica e pagã. Não é uma escavadora persistente que há-de abrir a nossa cova nem a santíssima trindade política que nos roubará esta loucura. Chegou finalmente o dia? Queremos cortar caminhos e amarras e rotinas. Queremos errar, porque o nosso verbo é o verbo ir. Queremos fugir a fingir que somos livres dessa cruz que carregamos. Mas prisioneiros somos nós todos ó crucificados, prisioneiros do silêncio como gatos e ratos.

Miguel Jesus

(sinopse do espectáculo)



Serva Irena
Foi há tanto tempo. A toda a hora entravam pessoas horrorizadas clamando que iam perder os seus bens naquele desastre da revolução. Os mais lívidos, (.) eram uns colegas do meu irmão dum partido esquisito que era uma espécie de santa união de todos os partidos que não existiam.

Serva Irene
Tanto susto para nada. É certo que o tal partido que era o cemitério de todos os partidos foi um ar que lhe deu mas aquilo é gente respeitável que nunca se perde porque logo a seguir nasceram como cogumelos vários partidos que também eram só um partido visto que naquela altura eram todos socialistas. O meu mano foi um desses agentes da mudança como então se dizia dessa prestimosa classe especializada em fazer andar tudo para trás e diga-se em abono da sua fé (:) na sua estimada e defunta ditadura que ele nem sequer precisou de virar a casaca porque as coisas é que viraram.
Sumidos os ideais os partidos que já pouco se distinguiam uns dos outros apesar de serem vários ficaram sendo só um pelo que o mano não teve dificuldade em voltar a ser a pessoa graúda que tinha sido na tal sagrada aliança de todos os partidos que não existiam e assim morreu (.) e assim morreu carregado de honras devidas a um democrata de reconhecido mérito.

Dona Hortência
Vai, vai, continua. O que é que eu hei-de fazer. Esta minha irmã maluca não perde esta mania de se fazer passar por mim. Vai, vai. Fala, fala, fala…