// Luto Clandestino (2006)Estreia | 23 de Julho no Largo da Igreja, Palmela Produção | Teatro O Bando e Associação Fiar Texto | de Jacinto Lucas Pires Encenação João Brites | Oralidade Teresa Lima | Corporalidade Félix Lozano | Espaço Cénico João Brites | Figurinos e Adereços Clara Bento | Assistência de Encenação Sara de Castro | Desenho de Som Sérgio Milhano | Desenho Luz e Operação de Luz e Som João Cachulo | Produção Executiva João Chicó | Apoio Fátima Santos, Pedro Ataz | Distribuição Dolores de Matos (FIAR) Com | Dinis Machado e Paula Só |
Quem não gostava de ser "mosquinha” e ouvir as conversas secretas dos outros? O casal no café que ri baixinho, os velhos no jardim, os namorados que se beijam dentro dos carros, as mulheres às varandas. Quem nunca sentiu, mesmo que o esconda, o desejo de conhecer melhor alguém, ouvindo os seus desabafos, numa conversa de que não fazemos parte? Neste espectáculo do bando vamos espreitar o mundo da clandestinidade. Vai-nos ser permitido pôr uns auriculares e ser "mosquinha” durante meia hora, seguir uns desconhecidos e ouvir uma conversa íntima, sobre medo, perversidade, amor, morte... luto? E quem sabe se esta experiência de aproximação ao outro não será esclarecedora para vermos melhor o mundo e percebermo-nos a nós próprios? Quem sabe se esta experiência de voyeurismo não será parte de uma viagem introspectiva? (sinopse do espectáculo) Lurdes, uma mulher de meia-idade, de saia-casaco preto, está na rua, sozinha. Leva um cigarro apagado à boca. Depois tira-o, para falar. Lurdes: Não tem nada que enganar. Sou a mulher parada na rua, de roupa preta, com ar de quem não está a fazer nada de especial. Sou eu, esta. Não fumo. A minha filha é que fumava. Eu ponho e tiro o cigarro apagado da boca só para fazer alguma coisa enquanto não faço nada de especial. Só para matar o tempo. (Pausa.) Todos temos uma história para contar, dizem, e esta é a minha. Põe de novo o cigarro na boca – mas desta vez com uma lentidão estranha, como se esse simples gesto desencadeasse alguma coisa importante que não pudesse mais voltar atrás. António, um homem novo, aproxima-se. António: Já fumava antes? Lurdes: (virando-se) És tu. António: Sim. Trouxe uma coisa. Lurdes: Sempre fumei. Agora venho é cá para fora. (Olhando para o público.) Não aguento a sala a cheirar a fumo. (Deita o cigarro ao chão e pisa-o, fingindo apagá-lo.) António: Tenho uma coisa para lhe mostrar. |