// Linha Da Viagem (2007)

Estreia | 3 de Março no Teatro Maria Matos, Lisboa
Co-produção Teatro O Bando e Teatro Maria Matos
Texto A partir da obra do pintor Nadir Afonso e de uma livre adaptação de Madalena Victorino do conto "Diabo em Terra de Gente" de Carlos Wallenstein | Encenação e Coreografia Madalena Victorino | Interpretação e Criação Colectiva Ainhoa Vidal e Giacomo Scalisi  | Música (Canção para Nadir) Jorge Salgueiro | Oralidade Teresa Lima | Espaço Cénico João Brites e Rui Francisco | Figurinos e Objectos Maria João Castelo | Fotografia António Rebolo | Imagem André Almeida, com a colaboração de Nuno Cintrão | Sonoplastia Alex | Desenho de Luz João Cachulo | Assistentes Estagiárias Patrícia Antunes e Raquel Belchior | Assessoria técnica da estrutura Lima Ramos | Serralharia (plateia) Joaquim Pinto | Serralharia (tenda) Leonel & Bicho | Parceria Centro Cultural Vila Flor | Agradecimentos Rui Victorino, família Wallenstein e Rui Chaves
Dedicado à Natércia Campos

Um espectáculo para um actor e uma bailarina pendurado em linhas pintadas que nos saltam para as mãos.
Como se pintou o nascimento do mundo? Quem arquitectou a geometria da poesia? Quando um triângulo é uma árvore e uma circunferência uma lagoa, então um segmento de recta poderá ser uma pequena rua, onde um diabo e uma rapariga libelinha se conhecem...
A ideia de pôr toda uma coreografia numa linha que flui, foge e se desenha no espaço de uma história, e de levar um público mais novo a ver a pintura e a encontrar-lhe o encanto na descoberta de sentidos, de movimentos, de emoções – foi um desafio que nos quisemos colocar.
A partir de telas de Nadir Afonso e de um conto, "Diabo em Terra de Gente”, livremente adaptado, de Carlos Wallenstein, costurámos esta experiência teatral que baloiça entre a racionalidade da pintura cinética e uma coreografia de afectos.

Madalena Victorino

(sinopse do espectáculo)


A rapariga Libelinha estava por toda a parte. Tinha um modo especial de tratar as coisas, um modo íntimo, que desperta nas coisas um sorriso.
Usa agora (não sabemos porquê) uns óculos de lentes muito grossas que a obrigam a andar apoiada às paredes. As crianças guiam-na quando quer atravessar a rua. Beijam-lhe as mãos e com essas mesmas mãos ela atira-lhes rebuçados. Senta-se nos muros baixos e com os olhos e com a imaginação conta-lhes a história das pedras e a tragédia das árvores:
Se pensarmos que a Terra é uma bola que vive (existe) no Ar do Universo, então, as Pedras são as mães da Terra, porque estão cá para ajudar a Terra a não desaparecer, por causa das malandrices dos ventos e das chuvas…
As pedras são feitas de areias, torrões da Terra e foram amassadas com água dos rios e do mar. Nos Invernos petrificam por causa do frio e assim se transformam em figuras quase humanas, por vezes feitas de linhas mínimas, por vezes gigantes que nos guardam para sempre…
Servem para fazer casas, muros e estradas (é por isso que nos podemos encontrar hoje aqui).