// Caras ou Coroas (1981)Estreia | 16 de Outubro em Montemor-o-Novo Texto | Cândido Ferreira Encenação | João Brites Cenografia e figurinos | Brigitte Platière e José Carretas Máscaras e objectos cénicos | Isabel Carretas Com | Cândido Ferreira, Fernando Gomes / José Caldas, Horácio Manuel / Raul Atalaia, Luzia Paramés / Teresa Mónica, João Brites / José Pedro Gomes, José Julião, Maruga e Wanda Barros |
Esta peça desenrola-se simultaneamente em dois palcos separados por uma cortina que representam a aldeia e a cidade, onde são interpretadas duas histórias ligadas entre si, mas cuja ligação, o público só se apercebe depois de ter visto as duas representações. O público que assiste de um lado apercebe-se que do outro lado algo se passa, mas não o pode ver. As duas personagens opõem-se. Um é o Antoninho, de pés bem assentes na terra muito interessado em obter coroas. O outro é o Cesário que persegue caras, sem se preocupar com as coroas. As coroas correspondem aos fins que muita gente procura alcançar sem olhar a meios e as caras correspondem ao amor, à amizade, à realização do ser humano. Depois do intervalo o público muda de lugar e assiste à outra parte da peça. (sinopse do espectáculo) Cesário: Quem me dera ter dez anos / Sem enganos nem desenganos / E quando o meu pai me batia / Sem eu perceber porque o fazia / E quando a professora / Me ensinava / Aquelas brutalidades / Que eu não entendia / E era burro / Se não repetia / Angola é nossa / Moçambique é vossa / A índia da vossa mãe! (começa manifestação) E aqueles amigos da família / Que diziam bem da PIDE / Da Legião e da Mocidade Portuguesa / E nos dias de festa / Me obrigavam a fazer gracinhas / Porque eu era inteligente / Tinha talento, futuro génio / Das suas encomendas / Um alvo / Para as suas prendas / Eu pensava que o 25 de Abril / Iria dar pão e o resto / A todos... (passa a manifestação a correr) Que todos tivessem tudo / E se alguém de algo precisasse / Se juntasse uma multidão / Mas agora já é tarde / Restam-nos escassos dias / Meses. Alguns anos? / Para sofrer / Pelos desenganos / Que o meu Deus / Me deu / Cada um nasce / Pr’o que nasceu / Eu nasci / Pr’a ficar / Aqui. (polícia bate-lhe na cabeça) Bateu-me / Arreou-me na cabeça / Raios partam o polícia / Mais quem o mandou bater-me / Então isto é que é a ordem? / Justiça? / Eu só estava a sonhar em voz alta / Sacanas! só se pode pensar em voz baixa, é? / Eu não faço mal a uma mosca! / Malandros / Tudo o que eu digo / Não passa de mera especulação / Poético-Filosófica! / Duma brincadeira! / Agora só se pode ir ao futebol. / Pode-se? / E ver televisão em casa / A dona recomenda / ... Pois era. (e Cesário some-se pelo chão, e a música e a luz somem-se pelo ar) |